Entrevistamos a Chris Boyle, jovem de 24 anos nado em Belfast, Irlanda e ex-jogador do Ambilokwoi F.G. de Vigo.
O que é para ti o futebol gaélico?
Para mim o futebol gaélico é um desporto, mas, além disso, é muitas mais cousas. É umha expressom da cultura do nosso povo. O futebol gaélico sempre foi para mim e para muita gente o desporto popular do meu país, para muitas comunidades o clube da GAA é o centro de atençom da vila, mais que desporto: música, dança, iniciativas sociais, língua, um ponto de referência.
Slaughtneil em Derry, por exemplo, é umha zona que quer converter a sua populaçom numha zona de fala irlandesa por influência do desporto e desta equipa.
No meu caso, os meus melhores amigos figem-nos no mundo do futebol gaélico, tanto no meu clube como no da escola, e também doutras equipas que praticavam hurling. Por sorte eu som dum condado com umha grande tradiçom de gaélico. O An Dún é a minha equipa e todas queremos levar a camisola do nosso condado.
Quando começas a jogar ao futebol gaélico?
Comecei a jogar aos sete anos no meu clube St. Michaels, mas só comecei a competir aos 10 (nessa época jogávamos misto) animado polo meu pai e meu avô, que era fanático do gaélico e da cultura irlandesa em geral.
Algo mui típico para as crianças de aqui é jogar no clube local porque normalmente estudam e treinam na escola local. Porem, eu vejo muita transformaçom no desporto nos últimos anos. Eu lembro que há 15 anos ainda podias ver jogadores com bandulho ou que tomavam pintas antes de jogar, mas hoje é quase impossível, até na minha equipa as cousas som um bocado mais profissionais agora. Eu acho que em idades temperás as crianças tenhem de ter liberdade para irem experimentando o desporto e melhorando conforme corresponda à sua idade, mas entendo que passa o mesmo com a gente nova no futebol británico… A mesma sociedade e as equipas fam-se cúmplices do sistema e intenta-se deixar cada vez mais de lado a parte desportiva e a pessoal, valorando mais a competitiva, o rendimento (ao compasso da cultura capitalista que envolve o mundo atual).
Quando e como descobres o futebol gaélico na Galiza?
Em outubro de 2013 e com muita sorte! Correndo no parque de Castrelos, em Vigo, achei um grupo de raparigas e raparigos juntas treinando, e acheguei-me a falar com elas, pois acolherom-me muito amavelmente. Na verdade é que foi gratificante e emotivo, para mim, ver a gente noutras terras jogando gaélico.
Algumhas cousas eram diferentes (também estavam começando a conhecer o jogo) respeito do que eu estava acostumado a treinar e jogar em Irlanda, mas também gostava muito porque o treino era mais baseado em praticar coa bola e exercitar as habilidades fundamentais, algo que na Irlanda nos últimos anos é cada vez menos importante segundo muitos treinadores.
O que é que pensas quando vês que esse futebol gaélico que se praticava na Galiza era misto?
Realmente ao princípio foi algo raro, mas depois de desputar o meu primeiro jogo mudei totalmente a minha forma de ver as cousas. O futebol gaélico nunca foi misto na Irlanda (ou mui poucas vezes, apenas em categorias base ou competiçom de veteranas) polo que foi algo novo para mim, mas comecei a jogar e a desfrutar desse modelo desportivo. A GAA em Irlanda, ainda que seja umha organizaçom que governa os deportes populares, tem que mudar muito com respeito às questons de género, já que ainda existem muitas atitudes patriarcais, por isso sigo emocionando-me com o aprendido e o trabalho da Liga Gallaecia, rompendo os estereótipos e os roles de género, construindo algo muito especial, distinto e sem dúvida revolucionário, como tem sido o início deste desporto na Irlanda nos seus começos.
O que achas sobre o desporto misto?
Tenho muito claro que precisamos igualdade em todos os ámbitos da vida e isso implica que no desporto também, mas aqui -no eido desportivo- ainda existem muitos prejuízos de género, se calhar mais que noutros ambientes da vida quotidiana, além da existência também do racismo e da homofobia. Temos que mudar e rachar de vez com eles. A Liga Gallaecia acho que é o exemplo perfeito.
Por isso é importante mudar antigas formas de pensar. Eu nom me considero mais capaz do que umha mulher no deporto que seja, e nos jogos tampouco me fixo contra quem compito. Toda vez que a bola está em movimento só existem camisolas dumha equipa ou doutra. Umha cousa da que gosto muito na Liga Gallaecia é que nom trocam o regulamento para as mulheres como se faz em Irlanda. Com efeito, essa medida nunca a cheguei a compreender; ao meu ver, é umha forma de discriminar às mulheres, umha forma clara de machismo que também tenho de dizer que nom só passa no futebol Gaélico.
Vês no gaélico umha ferramenta política no nosso País como também o foi na Irlanda?
Claro que considero o desporto umha ferramenta política. Cá na Irlanda muita gente quer esquecer-se da história, mas a GAA foi muito importante durante a Guerra da Independência, (naquela altura organizárom-se muitos jogos para ajudar as famílias dos presos e as presas republicanas). Hoje em dia nom há nada disso, mas na primeira parte do século XX a GAA também foi imprescindível para proteger a nossa cultura e identidade como Irlandesas, e por suposto como ferramenta política contra ingleses e unionistas.
Parece-me muito interessante que na Liga Gallaecia haja tanta consciência social e política. Isso é algo que na Irlanda perdemos substancialmente dentro do futebol gaélico, mas também há que reconhecer que a situaçom complicou-se nos últimos anos com a direçom que está a tomar a GAA, cada vez mais próxima do futebol empresa mais que desportivo-social, como já comentava antes… O sistema capitalista degenera tudo por onde passa e desgraçadamente o futebol gaélico nom é alheio à corruçom deste sistema que antes combatíamos jogando, e que vós agora também fazedes na Galiza.
Por isso gosto tanto e vejo-me tam identificado convosco e a vossa Liga. A Liga Gallaecia é umha associaçom que destaca temas muito importantes e criou um grupo muito consciente no que poder aprender e ensinar entre todas, política, social e também culturalmente.
O que opinas da Liga Gallaecia?
A Liga Gallaecia é um projeto muito grande, que está a intentar construir algo novo inclusivo, e como dixen antes, tem muito mérito porque é umha associaçom verdadeiramente popular, criada e levada avante com o esforço de todos os seus membros sem distinçom de género. É algo muito especial que nunca encontrei na Irlanda, na que a gente e os valores que movem a associaçom da Liga é tam importante como o desporto e a competiçom. Encanta-me também a atitude das jogadoras: claro que é importante ganhar, mas também é importante compartir depois dum partido impressons, tomando algo as equipas juntas no que se chama o Terceiro Tempo.
Que é do que mais gostas da Liga Gallaecia?
Muitas cousas mas fico com a oportunidade de praticar futebol gaélico em Galiza e conhecer a muita gente linda ao longo destes três anos. O descobrimento do gaélico aqui foi muito importante para mim e a melhor forma de integrar-me na cultura e na gente deste país.
E por suposto nom podo falar da Liga Gallaecia sem remarcar, o que já antes passei por acima: o Terceiro Tempo, que foi também algo novo para mim e algo do que gostei muitíssimo porque na Irlanda nom há cultura disso, ou mui poucas vezes há -o mais normal era tentar matar o árbitro ao fim do partido, nom fazer um Terceiro Tempo todas juntas-. Eu hoje graças a vós vejo-o imprescindível. E também quero destacar nesta liga como a gente sabe jogar competitivamente e também desfrutar e a deixar a rivalidade no campo.
Com qual das equipas ficarias se tivesses de escolher?
Ambílokwoi sempre! Isso nunca o poderei cambiar, apesar de ter mui boas amigas noutras equipas!
Algum conselho que nos podas dar à Liga?
O único conselho que tenho é o de seguir fazendo as mesmas cousas no plano desportivo e social da Liga. Malia os impedimentos que vos podam pôr de Irlanda a GAA acho que estades a fazer umha bonita história neste desporto.
Falando mais do desporto é importante sempre ver o gaélico na televisom ou na internet, gravar jogos, mirar as manias e erros, para corrigi-los e continuar a treinar praticando sempre com a bola.
Ia dizer que é importante animar a mais gente, mas vejo que existem cada vez mais equipas no País e umha organizaçom fantástica, polo que estou seguro que com o tempo seguirá a crescer.
Muito obrigadas.